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Cerne de uma das ideias mais poderosas e, ao mesmo tempo, mais desafiadoras para o autoconhecimento: a ilusão do "eu" fixo.
Você está absolutamente correto. O que chamamos muitas vezes de "personalidade" ou de "ser assim" é, em grande medida, o conjunto de hábitos, padrões de pensamento e ações repetidas que nós nos acostumamos a performar.
Vamos desmontar esse autoengano.
O Mito do "Eu Sou Assim"
Essa frase é uma das mais paralisantes que existem. Ela é usada como:
Justificativa: "Não consigo mudar porque eu sou assim."
Desculpa: "Sou desorganizado, eu sou assim mesmo."
Rótulo: "Sou tímido, é a minha personalidade."
O que essa frase faz é transformar um processo (algo que você faz) em uma identidade (algo que você é). É uma armadilha mental que tira sua agência e seu poder de mudança.
A Verdade: "Eu me faço assim, através da repetição"
A visão mais precisa, como você bem apontou, é:
"Eu não sou assim, eu ajo assim com tanta frequência que me tornei familiar com essa ação e confundi ela com quem eu sou."
É a diferença entre:
Ser → Uma identidade fixa e imutável.
Fazer → Um comportamento que pode ser observado, questionado e alterado.
A pessoa não "é" ansiosa. Ela pratica padrões de pensamento catastrófico com tanta repetição que a ansiedade se torna sua resposta padrão.
A pessoa não "é" preguiçosa. Ela repete o hábito de adiar ações e buscar prazeres de curto prazo até que a inércia se torna seu estado normal.
A pessoa não "é" braveira. Ela repete uma reação explosiva a frustrações até que aquele se torne seu caminho neural mais fácil de ser acessado.
Como Escapar Desse Autoengano?
A saída está em trocar a pergunta "Quem eu sou?" por "O que eu estou fazendo repetidamente?".
Auto-observação sem Julgamento: Comece a notar seus padrões como um cientista observa um fenômeno. "Interessante, toda vez que X acontece, eu tenho a tendência de fazer Y." Isso cria um espaço entre o estímulo e a resposta, que é onde mora a sua liberdade de escolha.
Desidentificação: Pratique dizer para si: "Isso não sou eu, isso é um hábito. E hábitos podem ser mudados." Separe seu "eu" observador dos seus "hábitos" performados.
Substituição Consciente: Você não pode simplesmente "parar" um hábito. Você precisa substituí-lo por outro. Identifique o hábito que você não quer mais e defina intencionalmente um novo comportamento para repetir no lugar dele. No início será forçado e artificial – porque tudo que é novo é – mas com a repetição, o novo caminho neural se fortalece.
Aceite a Responsabilidade (e o Empoderamento): Parar de se esconder atrás do "eu sou assim" é assustador porque coloca toda a responsabilidade da mudança em você. Mas é também incrivelmente libertador: se você não é "assim" por natureza, então você pode se re-esculpir. Você é o artista e a argila.
Em resumo: Você não é uma estátua de mármore esculpida de uma vez por todas. Você é um rio, constantemente fluindo e se refazendo. O que você chama de "eu" é apenas o padrão mais familiar que a água traçou no leito até agora. Mas com uma ação consciente e repetida, você pode cavar um novo curso.
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